Ida B Wells

CONHEÇA: IDA BELL WELLS

por Rosiane da Silva Teles

Você já ouviu falar na história da Ida Bell Wells? Quer saber mais sobre como ela desafiou o status quo e se tornou um ícone dos direitos civis nos Estados Unidos? Então você precisa conhecer a história completa dessa mulher extraordinária.

Wells nasceu em 1862, em Holly Springs, Mississippi, filha de pessoas escravizadas, em um tempo em que a liberdade era uma esperança no horizonte.  Mas sua história começou a brilhar com a Proclamação de Emancipação de Lincoln, em 1863, que lhe concedeu a liberdade. Seus pais, Jim e Elizabeth, priorizavam profundamente a educação e colocavam os filhos na escola.

Já adulta, Ida Bell Wells ficou muito conhecida pelo seu trabalho jornalístico. Isso porque relatava a crueldade da supremacia branca. Tempos mais tarde, ficaria  popular como uma ativista dos direitos humanos.

Wells nasceu na mesma época dos ataques da Ku Klux Klan contra a população afro-americana. É sabido que a KKK foi  uma organização terrorista surgida  nos Estados Unidos após a Guerra Civil Americana, ou Guerra de Secessão, ocorrida de 1861 a 1865. O grupo foi criado para promover a supremacia branca, ideal racista que incitou  muita segregação e ódio contra negros. Wells dizia lembrar quando era pequena que toda vez que o pai dela saia para trabalhar, ela via a sua mãe aflita, andando de um lado para o outro e esperando ansiosamente pela volta dele.

É preciso voltar à época da Pós-Guerra Civil, quando  a jovem Ida B. Wells começou sua jornada educacional no Rust College. Por sua inteligência e competência, nossa protagonista se destacou desde cedo. No entanto, em 1878, algo aterrorizante aconteceu. Uma tragédia abalou Holly Springs: uma terrível epidemia de febre amarela. Entre as vítimas, estavam seus pais e seu  irmãozinho Stanley. Aos 16 anos, sendo a mais velha de oito irmãos, iniciou sua carreira de professora em uma escola rural para pessoas negras, a fim de obter os meios para sustentar sua família.

Anos mais tarde, Wells tornou-se professora, mas pouco tempo depois decidiu mudar de profissão, tornando-se jornalista. Ela trabalhou nos jornais Free Speech, New York Age e Chicago Conservator. No começo, ela usava o pseudônimo Lola, mas logo assumiu seu nome verdadeiro.

Em 1887, ela começou a escrever artigos para o jornal relatando sua experiência de processar uma companhia ferroviária por discriminação racial. Mas você pode estar agora  se perguntando: “por que ela processou uma companhia ferroviária? O que eu perdi? “O que aconteceu?”. Vem comigo que eu te explico.

Segundo relatos, em  maio de 1884, durante um passeio de trem, Wells foi abordada pelo condutor, que lhe disse: “você tem que sair imediatamente deste local e deve seguir o restante de sua viagem no vagão para fumantes”. O vagão  era destinado às pessoas negras devido à segregação racial nos espaços públicos da época. Wells recusou-se, dizendo: “Não! Eu  tenho um bilhete para a primeira classe”. Mas ele não quis saber e a retirou à força, arrastando-a do assento. O condutor pegou Ida pelo braço. Para se defender, ela respondeu com uma mordida na mão do sujeito. Depois disso, o condutor pediu reforços e conseguiu colocá-la para fora.

Aos 22 anos, Wells entrou com um processo contra a companhia ferroviária por discriminação racial. E adivinha? Ida perdeu o caso. Claro. Alegaram que o vagão para fumantes era de primeira classe para pessoas negras.

Em 1889, Ida B. Wells recebeu um convite para se juntar aos jornais Free Speech and Headlight of Memphis. No entanto, ela só concordou em aceitar a proposta sob a mesma condição que os proprietários do jornal usufruíam. Eles concordaram com isso, e assim ela se tornou proprietária de um terço do jornal. 

Em 1892, a nossa protagonista iria mostrar o tamanho de sua força, após um caso ocorrido em Memphis. Três jovens negros – Thomas Moss, Calvin McDowell e Henry Stewart foram linchados. Como de costume, Wells usou a imprensa para denunciar o crime.

Tudo aconteceu quando em 1889, Thomas Moss, amigo da Wells, abriu uma mercearia de sucesso em uma área de brancos em Memphis. Quando Moss estava fora, uma multidão branca destruiu a loja, ferindo três homens brancos. Moss e outros dois homens negros foram presos, mas uma um grupo de pessoas os lichou.

Ao investigar o caso, Ida descobriu que negros eram assassinados por dívidas, por não ceder espaço a brancos ou por ter sucesso nos negócios. Ela se engajou num ativismo antilinchamento dentro dos Estados Unidos da América, viajando até para a Inglaterra. A reação foi violenta. Em 1892, alguns homens brancos colocaram fogo em seu escritório no Free Speech. Wells começou a receber ameaças de morte e não teve outra escolha exceto deixar a cidade.

Mas Diva não recua. De Nova York, Wells continuou sua luta sem medo, usando  a potência do jornalismo investigativo. Seus artigos e palestras sobre os horrores do linchamento ganhando notoriedade e passaram a circular globalmente.

Wells foi para a Inglaterra, onde relatou as atrocidades cometidas contra os negros americanos. Isso deu ainda mais visibilidade ao problema, e diversos países ficaram sabendo o que estava acontecendo nos Estados Unidos. Tempos depois, Wells voltou aos Estados Unidos, já muito conhecida. Lá, ela foi uma participante e uma voz crítica na campanha pelo sufrágio feminino, pautando o voto dos  afro-americanos.  

Ida Bell Wells manifestou seu ativismo antirracista de forma significativa por meio de seus escritos, nos quais expôs as injustiças raciais, com ênfase particular no fenômeno dos linchamentos, que se tornou um dos temas centrais de seu trabalho. Foi uma das pioneiras da teoria social. Entre suas produções escritas, destacam-se duas autobiografias: Crusade for Justice: the Autobiography of Ida B. Wells (1970), organizada e publicada postumamente por sua filha Alfreda M. Duster, e The Memphis Diary of Ida B. Wells (1995). 

Ida concluiu, que existiam dois  motivos centrais dos linchamentos. Em primeiro lugar, existia a ideia de conter a possível ascensão social de negros, pois alguns homens negros estavam comprando propriedades.  Em segundo lugar, é a tentativa de proibir qualquer tipo de relação interracial entre homens negros e mulheres brancas (Pioneiras da sociologia, 2022,  pág.  231). Em outras palavras: Eles desejavam manter o controle social baseando-se na hipótese racista de que os homens negros representavam uma ameaça, o que reforçava a ideia de preservar a pureza racial. 

Após a sua morte, sua filha Alfreda foi responsável por manter sua biografia viva. Graças a ela, temos a honra de conhecer sua história e seu legado, que continua a inspirar novas gerações. Por exemplo, 71 anos mais tarde, Rosa Parks se recusou a dar o seu lugar no ônibus a um homem branco (História do Mundo, 2024). O episódio é conhecido como um dos marcos inaugurais da campanha pelos direitos civis. 

O caso do linchamento dos homens negros me fez refletir a respeito dos Justiceiros de Copacabana. Eles são grupos de pessoas que decidiram agir à margem da lei, procurando punir supostos autores de crimes como assaltos e furtos, na região. (O Tempo |Brasil, 2023). A semelhança com o caso denunciado por Ida Bell Wells é que homens negros, em sua maioria inocentes, estavam e estão sofrendo linchamentos. Tudo isso demonstra que os textos e artigos da diva contribuem para reflexões atuais.

Rosiane é graduanda em sociologia e bolsista de Desenvolvimento Acadêmico do Labgen

Para saber mais:

SANTOS, Cintia M. “Ida B Wells”. In: DAFLON, V. T.; CAMPOS, L. R. Pioneiras da sociologia: mulheres intelectuais nos séculos XVIII e XIX. Niterói: EdUFF, 2022.

Assista uma aula sobre Ida B Wells no canal da ANPOCS.

Para conhecer os trabalhos desenvolvidos por mulheres na área científica, no dia 14 de outubro de 2024 (segunda-feira), às 14h, o grupo de pesquisa Economia Política da Comunicação e da Cultura (EPCC – CNPq/FCRB), com o apoio do setor de pesquisa em Políticas Culturais e o Programa de Pós-graduação em Memória e Acervos da FCRB, promove na Sala de Cursos da Fundação Casa de Rui Barbosa, de forma híbrida (presencial e online), o XXXII Seminário de Pesquisas Científicas analisando o tema Mulheres e Ciência. “Mulheres e Ciência” é analisado por três palestrantes: Verônica Toste Daflon, Eula D. T. Cabral e Danielle F.R.Furlani. Para participar do evento e garantir o Certificado, gratuito, é preciso se inscrever em https://doity.com.br/xxxii-seminario-de-pesquisas-cientificas-mulheres-e-ciencia

Estão abertas as submissões de trabalhos para o I Seminário Teoria Social, Mulheres e Cânone | VI Semana Acadêmica do PPGS/UFPB. Entre os dias 01/10 e 20/10, os interessados podem enviar seus resumos para o GT “Leituras Contemporâneas das Pioneiras”, organizado pelas professoras Verônica Toste e Luna Campos. Leia a descrição abaixo:

“O grupo de trabalho se dedica a estudar autoras mulheres que tiveram um papel significativo na formação das ciências sociais, sobretudo nos séculos XIX e início do século XX. Nesse contexto, são analisados os aportes teóricos e temáticos que essas autoras trazem para a sociologia clássica e contemporânea. Além disso, o grupo promove um diálogo entre essas autoras e os autores já estabelecidos no núcleo teórico da sociologia, tratando-as como potenciais fontes de renovação, novas controvérsias e dinamização teórica”.

Mais informações no site do evento: https://www.even3.com.br/semana-academica-ppgs-ufpb-2024/

A Lei da Alienação Parental (Lei 12.318/2010), sancionada no Brasil em 2010, trata de um fenômeno controverso que ocorre em situações de separação ou divórcio, envolvendo disputas de guarda de filhos. Ela foi inspirada na teoria do psiquiatra estadunidense Richard Gardner, que cunhou o termo “alienação parental”. A ideia central da AP é que um dos pais (geralmente a mãe, segundo a teoria original) manipula a criança para afastá-la do outro genitor, muitas vezes alegando falsos abusos sexuais ou mesmo implantando “falsas memórias” na criança. Críticos apontam que a LAP tem causado sérios prejuízos tanto as crianças quanto as mães. A LAP também é criticada por fragilizar os mecanismos de proteção previstos na Lei Maria da Penha, colocando mulheres mães em risco. Atualmente, diversos órgãos e movimentos fazem críticas à LAP e defendem sua revogação: a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a Defensoria Pública da União, a Bancada Feminina da Câmara dos Deputados Federais, a ativista Maria da Penha, a ONG Vozes de Anjos, o Coletivo de Proteção à Infância Voz Materna, o Coletivo Mães na Luta, a Associação de Mulheres, Mães e Trabalhadoras do Brasil (MATRIA) e outras. Essa oficina tem como objetivo discutir aspectos jurídicos e sociológicos da LAP e dos movimentos sociais que lhe fazem oposição. Enfatiza suas consequências para mulheres e crianças e conecta a discussão a reflexões teóricas sobre família, sexo, reprodução e desigualdades.

Inscrições e mais informações em: https://www.proex.uff.br/evento/?ev=9852

O XII Seminário Fluminense de Sociologia está com inscrições abertas para envio de resumos. O LabGen está responsável pelo GT 07 – Sexo, Gênero, Poder e Desigualdades. O seminário acontecerá no Campus do Gragoatá, Niterói (RJ), entre os dias 08 e 09 de outubro de 2024. Mais informações em https://linktr.ee/semfluminensedesociologia . Segue abaixo a descrição do GT:

Esse Grupo de Trabalho convida discussões teóricas e empíricas sobre sexo, gênero, poder e desigualdades. Valorizamos desde pesquisas sobre desigualdades e as relações sociais cotidianas até trabalhos que se debruçam sobre o problema nas organizações, instituições, mercado e cotidiano. O GT recebe trabalhos de diversas orientações teóricas e metodológicas, privilegiando o olhar sociológico para os processos, mecanismos e materialidades. As temáticas podem abordar a divisão sexual do trabalho, o controle da reprodução, a guerra, a violência, as políticas públicas, o ordenamento legal e assim por diante.

Acaba de ser publicada na revista Sociologia & Antropologia a resenha do livro “A teoria sociológica para além do cânone”, escrita por Luna Ribeiro Campos. O texto, intitulado “Teorias, cânones e canhões: para o desenvolvimento de sociologias alternativas”, já pode ser lido na plataforma Scielo.

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