Nos últimos anos no Brasil, vários discursos sobre desigualdades começaram a circular em larga escala para múltiplos receptores e muito além do contexto em que foram originalmente criados. Um grande fluxo de informações de movimentos sociais como o feminismo, o movimento LGBTQ, o movimento negro e várias organizações da esquerda assumiu a mídia social, que conecta indivíduos através de grandes distâncias e impulsiona interações além de suas conexões físicas. Embora se presuma que tais redes reduzem as assimetrias de comunicação, elas são ambientes altamente estruturados e têm sua própria economia política. Plataformas como Facebook, Twitter, Youtube são projetadas para mineração de dados individuais e seu design tem um forte impacto na forma como as mensagens e interações sociais são modeladas. Outra razão é que os atores sociais não compartilham os mesmos códigos culturais, redes físicas, repertórios e condições objetivas de vida. A multidirecionalidade das mensagens on-line torna a recepção e decodificação de informações muito incertas. A pesquisa de Camila Garcia Fintelman investiga a recepção de discursos sobre política, gênero, raça e violência entre jovens de baixa renda de 20 a 30 anos de uma pequena cidade nos arredores do Rio de Janeiro. Ao realizar trabalho de campo e entrevistas semiestruturadas, procura entender como os discursos sobre política e desigualdades são recebidos, filtrados e interpretados pelos entrevistados do ponto de vista, da cultura local e da situação objetiva.

Resumo: Este trabalho baseou-se em entrevistas semiestruturadas com 14 jovens de 20 a 30 anos de Magé, região da baixada fluminense do Rio de Janeiro, visando analisar a recepção de mensagens políticas por pessoas de classes populares, a fim de testar a hipótese de que as redes sociais digitais produzem uma falsa horizontalidade entre os usuários. Os achados indicam que o distanciamento físico e a falta de redes dos jovens das classes baixas com pessoas universitárias e de esquerda fazem com que não compartilhem os códigos e enquadramentos do repertório progressista, o que, para além das consequências disso para a desigualdade, provoca uma série de consequências culturais e políticas. O trabalho sugere que, tendo em vista o atual contexto político, os setores progressistas adotem uma postura mais didática e pragmática na interlocução com pessoas de classes populares.

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